quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Hipocrisia alemã

Quem tenha andado com atenção às notícias pôde verificar que a Alemanha não conseguiu vender toda a sua dívida, apesar de o juro para a Alemanha ter baixado. Isto é estranho.

Normalmente, quando um Estado vai vender a sua dívida, submete um dado número de obrigações a leilão. Há várias ofertas que são organizadas por ordem crescente desde a oferta com a taxa de juro mais baixa até todas as obrigações terem sido cobertas.
Na Terça-feira, a Alemanha não vendeu tudo. Numa situação usual, venderia tudo mas pagaria um juro médio mais alto por essa dívida. Mas Terca-feira, o juro foi o mais baixo de sempre num leilão a longo prazo. A Agência Financeira Alemã nega que haja "perda de apetite" pelas bunds.

Chamo a atenção para este pormenor: «O montante retido, cerca de 39% do volume planeado, será leiloado no mercado secundário.» Passo a explicar: esta Agência Governamental alemã, guarda uma porção das obrigações para vender depois no mercado secundário (onde a maior parte das instituições financeiras e investidores compram dívida).

A linha azul é aquilo que o Governo alemão reteve. A linha verde é a média daquilo que o Governo alemão costuma reter (leia-se, não vendeu no mercado primário). Como se poder ver pelo gráfico, o Governo alemão, ontem, reteu muito mais dívida (39%) do que é habitual e do que seria justificável para cumprir os seus objectivos (manter a disponibilidade da dívida alemã no mercado secundário).

William Mitchell, economista australiano explica:
O Governo alemão está a manipular as próprias regras - retirando muito mais para vender no mercado secundário do que aquilo que pode justificar por razões operacionais.

Fizeram isso para:
1. Manter as taxas de juro oficiais baixas.

2. Resgatar-se a ele próprio quando os mercados não estão dispostos a financiá-lo nos seus termos – ou como aconteceu ontem – nem sequer financiar.
William Mitchell

Nota sobre mercados primário e secundário:
Mercado primário é onde se realiza a compra de títulos de dívida directamente ao emissor. No caso alemão, há 33 instituições que podem comprar essas obrigações directamente nos leilões. Depois de comprarem títulos de dívida nos leilões, transaccionam-na nos mercados secundários, que é onde todos os demais investidores, sem restrições, podem comprar esses títulos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Todos e quaisquer comentários ofensivos, ou que não visem contribuir para a discussão poderão ser removidos sem aviso prévio.